Acabo de ler “Vinte e um poemas
de amor”, o mais novo livro do baiano Cyro de Mattos. Sem dúvida, trata-se de
um harmonioso projeto editorial em que dialogam os poemas de Cyro de Mattos e
as ilustrações da artista plástica baiana Edsoleda Santos. Poema que se projeta
na imagem, imagem ecoando poema. Um livro gostoso de ver e de ler.
Erotismo e afetividade são as
tônicas primordiais que perpassam este livro. Claramente, percebemos durante
toda a leitura, a presença de um poeta maduro que atingiu tanto na linguagem
quanto no conteúdo o domínio perceptível das sensações amorosas e o apuro
formal das técnicas criativas. É, sobretudo, um livro enxuto, que respeita o
tempo do leitor. O curto tempo das vidas urbanas. O curto tempo das vidas
parceladas em cartões de crédito. O tempo dos que ainda acreditam que a leitura
de poesia harmoniza nossa alma, reacende nossas paixões. O tempo, acima de
tudo, em que precisamos dizer apenas o necessário, pois o silêncio muitas vezes
é mais sábio que os barulhos caudalosos de textos angustiados de falsos profetas
estéticos. A poesia em carne, delírios, afagos, desejos e muitas metáforas
sensuais. A poesia do nosso tempo!
A poesia de Cyro de Mattos emana
aquela força lírica que nos alcança no mais profundo abismo de esquecimento e
solidão. Poesia que sacia nossa eterna sede de Beleza!
III
Sede dos teus seios,
Meu corpo no teu corpo
É uma única boca,
Lambe os pontos
Mais longínquos.
Numa urna alaranjada,
Vermelha, branca,
Chovida de procuras.
Como é possível o amor
Vazar tanto vinho?
(p.21)
MATTOS, Cyro de. Vinte
e um poemas de amor. São Paulo: Dobra Editorial, 2011.
Cleberton
Santos – poeta e professor do IFBA. Publicou os livros de poemas Ópera
urbana (2000), Lucidez silenciosa (2005), Cantares de roda
(2011).
Riachão
do Jacuípe, Bahia, 27 de agosto de 2012.