Em 1999, ainda no primeiro semestre do curso de Letras da
Universidade Estadual de Feira de Santana, li pela primeira vez “Sargento
Getúlio” de João de Ubaldo Ribeiro. Fui indiscutivelmente conquistado pela
força de sua narrativa e também pela identificação com aquele universo
sergipano, principalmente linguístico, que eu acabara de deixar para viver nas
terras baianas. Logo depois fiz um artigo para conclusão de alguma disciplina.
Hoje, 15 anos depois, assisti à peça “Sargento Getúlio” encenada
pelo ator baiano Carlos Betão, com adaptação e direção de Gil Vicente Tavares,
filho do poeta Ildásio Tavares.
No auditório do Memorial Chesf lotadíssimo, com o apoio
sempre fundamental do SESC Ler Paulo Afonso, o público de estudantes,
professores e demais espectadores da cidade de Paulo Afonso pode conferir um
espetáculo teatral de altíssima qualidade visual, sonora e textual.
A mesma sensação de alegria estética que senti quando li as
páginas do livro que contavam a história de um sargento sergipano que vive sua
odisseia existencial pelas veredas do sertão nordestino foi renovada vendo o
monólogo no palco. Merece grande destaque o desempenho do ator Carlos Betão que
personifica vozes de outros personagens de forma magistral, pois sem sair de
cena para trocar figurinos, apenas com os recursos vocais e gestuais, ele
recria diálogos entre os personagens da narrativa. Momentos líricos são
estabelecidos no tecido da peça pelos aboios que atravessam o palco e o coração
da plateia e ecoam no próprio texto ubaldiano que muitas vezes se aproxima da
poesia popular de matriz nordestina. Mesmo diante das situações mais dramáticas
vividas na peça, o riso também ganha seu espaço e envolve o público em vários
momentos de alternância entre as reflexões sobre o destino trágico do homem e
sua mais cômica e banal possibilidade de rir da sua própria condição miserável
diante da tragédia que é viver.
A peça não substitui a leitura do livro. Isso é claro. Mas o
livro também não substitui a beleza da realização cênica da história imaginada
pelo engenhoso João Ubaldo Ribeiro, autor de tantos outros livros tão
importantes para nossa literatura. Ler e ver a linguagem de João Ubaldo Ribeiro
são duas aprendizagens estéticas e várias lições de profundo humanismo.
Cleberton Santos
Paulo Afonso, 05 de junho de 2014.
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