domingo, 15 de abril de 2007

poema INFÂNCIA

No umbigo do mundo
escondi meu cavalo de barro.
No umbigo do mundo
escondi minha bola de gude.
No umbigo do mundo
a criança escondida
brinca de se esconder
do outro lado das coisas
vestindo palavras espumas.

Poema publicado na Antologia do 15º Concurso Nacional de Poesia “Helena Kolody”, editada pelo Governo do Paraná, 2005.

LEITORES OU SOLETRADORES?

A verdadeira leitura possibilita ao homem uma compreensão e interpretação profunda dos fenômenos que ocorrem no mundo que o cerca. Claro que não estou me referindo ao ato da mera e superficial soletração de letras, sílabas e palavras. Ato mecânico que poderá ser realizado por qualquer robô devidamente programado. Quando falo em LEITURA penso na leitura plena, nos múltiplos sentidos da palavra, nos contextos que envolvem cada texto, nas entrelinhas que dizem outros mistérios, nos silêncios que lançam enigmas ao leitor.

Neste momento, muitas pessoas devem estar se perguntando: Eu sou um leitor ou um soletrador de textos?

Infelizmente, a maioria dos jovens que saem das escolas brasileiras são meros SOLETRADORES. Sim, são SO-LE-TRA-DO-RES!

Mas se o objetivo da escola é educar o cidadão para ser um grande LEITOR, qual tem sido o problema? Eis o nó da questão!

O engano social já começa em atribuir à escola o poder absoluto na formação do futuro leitor-cidadão. A leitura é um ato sociocultural e, portanto, deve ser praticada em todos os espaços da sociedade, principalmente, na família. Porém, o que se tem visto é um total descaso com a prática da leitura nos diversos meios sociais. E para completar a tragédia brasileira, o espaço social considerado “templo da leitura”, a escola, também tem relegado esta atividade aos bastidores do teatro do ensino-aprendizagem.

Leitores e soletradores são facilmente identificáveis em suas atitudes sociais. Os soletradores tendem a decorar informações para uso momentâneo de satisfação imediata. Leitores são mais inquietos e buscam dialogar com as informações, avaliá-las, interpretá-las e até mesmo reescrevê-las, dando assim continuidade ao conhecimento humano. Os soletradores são pontes quebradas que levam ao abismo da ignorância. Os leitores são águias que enxergam além dos horizontes.

Escolas, famílias, igrejas, partidos, clubes, segmentos de todos os grupos sociais uni-vos em prol da transformação urgente de nossos capengas soletradores em magníficos leitores.

Façamos valer as sábias palavras do poeta Castro Aves:

Oh! Bendito o que semeia

Livros... livros à mão cheia...

E manda o povo pensar!

O livro caindo n'alma

É germe—que faz a palma,

É chuva—que faz o mar.


Publicado no jornal Valença Agora, Valença – BA, 12/04/2007 a 18/04/2007, nº 101, p. 13.

poema GIRASSÓIS

Nas formas do teu corpo
percorro verbos infinitos
de angústia e prazer
de solidão e demência
de volúpia e tortura.
Enquanto inauguro em cada manhã
formas lúcidas de amar girassóis.

Poema publicado no jornal Valença Agora, Valença – BA, 12/04/2007 a 18/04/2007, nº 101, p. 12.