segunda-feira, 24 de abril de 2017

Chico de Assis e Jorge de Lima

Dois grandes nomes da Cultura Brasileira.

domingo, 23 de abril de 2017

Poética na incorporação: livro de Igor Fagundes


ODISSEIA DA LINGUAGEM 

Poeta, ensaísta, crítico literário, ator e professor de Filosofia, Estética e Dança no Departamento de Arte Corporal da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Igor Fagundes digere as bases de formação do pensamento ocidental e oferece em seu oitavo livro (o quarto de ensaio), Poética na incorporação, uma odisseia da linguagem. Seduzindo-se pelo canto das sereias e das musas, restitui-se como espaço privilegiado do exercício do humano, da experimentação e da resistência. Para tanto, evoca as gestualidades vocais de Maria Bethânia e a poesia escrita de José Inácio Vieira de Melo, deitando-as na encruzilhada de Exu, orixá mensageiro das travessias, e assim promove a desconstrução de estereótipos promotores de discriminação e preconceito.
Fruto de tese de doutorado em Poética pela UFRJ, o livro revela um escritor avesso ao lugar-comum a que o conceito oswaldiano de antropofagia acabou se reduzindo, e que faz da escrita, com seu formato ensaístico, um libelo ao pensamento. Em Igor Fagundes, a escrita pensa: desdobra-se para dentro e para fora de si, investigando-se. Só por isso já merece leitura e atenção. Mas vai além. Cruza mitos africanos, bíblicos e gregos para remexer nossa ontologia cultural, problematizando, por exemplo, recentes ideias de autoficção ou escritas de si. E também restaura a questão sobre o que é ser brasileiro e sobre o que significa pensar e escrever num Brasil “expatriado”, “ainda e sempre na promessa de um descobrimento”. País que “há de ser o mistério de cada voz no silêncio e pelo silêncio transatlântico de todo lugar”.
Em suas especificidades e “dentro de um só mocó”, Exu, Cristo e Hermes incorporam no palco e terreiro deste Ulisses brasileiro e pirata que Igor Fagundes se torna, colocando “Ítaca bem no meio da gira” e atravessando o mar da sofia. Mar que também é sertão (pois, mencionando Guimarães Rosa, “o sertão está em toda parte, é dentro da gente”). Fagundes leva o sertão para dentro do texto, “sempre na volta adiável”, com eternos retornos, torneios da linguagem. Daí que testa o uso das palavras, rascunha e dobra os sentidos ao escrever, deixando sempre o rastro da escrita, da incerteza.
Se a poesia de José Inácio tem como referência os cordelistas e o aboio; se a voz de (sua musa) Maria Bethânia — “cantora encruzilhada” — guarda o canto das sereias, Igor Fagundes imprime em seu texto a marca do popular, do artesanal, do mítico. E o faz sintonizado, ainda que não cite, com um dos mais enigmáticos aforismos de Oswald de Andrade: “Só podemos atender ao mundo orecular”. Amalgamando “auricular” (de ouvido) e “oracular” (de oráculo), investe no sentido da audição, na escuta como acesso ao conhecimento, descarregando o divino na histórica objetivação capitalista.
A demanda pela voz atravessa todo o livro e é sua potência. Para além do registro escritural, a voz poética desconstrói verdades e quebra hábitos de leitura. O projeto ocidental de emudecimento do poético e, por sua vez, de ensurdecimento do ouvinte-leitor é radicalmente atacado. Entre silêncios e vazios, o leitor é chamado a tomar posição e a pensar com o corpo todo sobre o já dado, o já estabelecido na cultura dos conceitos, no fetiche da ciência que despreza as religiões: “no arcaico, sábio é o poeta, o bardo, o cantor, o incorporado”. Tomado “pelo princípio enquanto princípio, pelo milagre do agora abissal”, Igor Fagundes emula Maria Bethânia e José Inácio direcionando o leitor para um grau zero da escrita, para uma fronteira onde o escrito por si só não basta. Considerando que a musa é a fonte de uma mensagem enviada apenas ao poeta e a sereia, a portadora do canto audível aos ouvidos humanos, em Poética na incorporação a linguagem é musa e a escrita é sereia que seduz e engendra o desconforto do leitor.
Labiríntico e distante das simplificações dos manuais que criam dicotomias preguiçosas para apressados, o livro orienta antigo e moderno, tradição e traição, a fim de sustentar a hesitação geradora do pensar. Na invenção do humano, cantando o ciclo da origem, do ser se dando na linguagem, as disputas pelas heranças patriarcais são substituídas pela generosidade erótica dos contatos. Em estado de poesia, vendo o mundo “pelos olhos da esfinge”, sendo o enigma, não o decifrador, Igor Fagundes reafirma a literatura como saber: da linguagem e de um ser humano retirante, itinerante, nômade.

Resenha publicada no Jornal Rascunho

Para adquirir mais livros de Igor Fagundes:



quinta-feira, 20 de abril de 2017

Damário Dacruz: oficina do Projeto OXE


Certo voo

Cada
pássaro
sabe
a rota
do retorno.

Cada
pássaro
sabe
a rota
de si.

Cada
pássaro,
na rota,
sabe-se
pássaro.

Damário Dacruz

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Manuel Bandeira: imagem, poesia e vida.


Um poeta que leio sempre. Poemas para todos os dias. Meu querido poeta pernambucano Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira.


quinta-feira, 6 de abril de 2017

"O Alienista" de Machado de Assis


Para meus queridos alunos do IFBA campus Santo Amaro. Para todos os amantes da nossa boa Literatura Brasileira. O Mestre Machado de Assis.
 

terça-feira, 4 de abril de 2017

Poema de Narlan Matos



CALENDÁRIO

é preciso esquecer de março
para que abril finalmente aconteça
deitar-se sob a sombra de janeiro
para que o abismo de junho desapareça

de quem é esta face por detrás da hera?
ao longe o luar etéreo repousa leve e branco
sobre lírios de absinto e quimera

resta ainda a relva de setembro
e azaleias da tarde
e as latitudes do silêncio

não é a morte que eu busco, amiga
quando chegam tuas palavras na brisa
quando oferece-me o frescor de tua tez
e a Via-Láctea de repente renasce
calma nas rosas silvestres do prado
ou quando abres as imensas pétalas
do teu sorriso lindo e branco (um lírio?)
para a noite da minha existência

CALENDARIO

bisogna dimenticare marzo
perché finalmente arrivi aprile
sdraiarsi all’ombra di gennaio
perché l’abisso di giugno scompaia

di chi è questa faccia dietro l’edera?
lontano il chiar di luna riposa lieve e bianco
sopra gigli di assenzio e chimera

resta ancora l’erba di settembre
e azalee del pomeriggio
e le latitudini del silenzio

non è la morte che cerco, amica
quando giungono le tue parole nella brezza
quando mi offri la frescura della tua pelle
e la Via Lattea all’improvviso rinasce
calma nelle rose silvestri del prato
o quando apri i petali immensi
del tuo sorriso bello e bianco (un giglio?)
per la notte della mia esistenza

Narlan Matos - poeta brasileiro com vários livros publicados. Vive nos Estados Unidos e sua poesia já foi traduzida para vários idiomas. 

Tradutor: Giorgio Mobili




segunda-feira, 3 de abril de 2017

Poema de Roberval Pereyr



Amálgama

O exercício da mentira
assevera-nos o rosto;
petrifica-nos o busto
e engrandece-nos a ira. 

O exercício da mentira
engrandece-nos as posses;
ajoelha-nos em preces
sob o teto das igrejas. 

O exercício da mentira
faz-nos fortes barulhentos;
tece grandes pensamentos
para encher-nos de amarguras. 

O exercício da mentira
faz-nos lúcidos, divinos;
torna os animais humanos
e torna os deuses caninos. 

O exercício da mentira
(por que tamanha maldade?)
concedeu-nos - que loucura! -
o exercício da verdade. 

Roberval Pereyr

Nasceu em Antônio Cardoso (Bahia, 1953). Vive em Feira de Santana. É poeta, ensaísta e professor na UEFS. Publicou os livros de poesia: Iniciação ao estudo do um (com Antônio Brasileiro, em 1973); Cantos de sagitário, (1976); As roupas do nu (Coleção dos Novos, em 1981); Ocidentais (1987) e O súbito cenário (1996). Publicou nas revistas: Tapume, Hera e Serial. Vencedor do Prêmio da Academia de Letras da Bahia 2010.


domingo, 2 de abril de 2017

Meu poema "dedos"

Fotografia by Ricardo Prado
Sarau na Fazenda Pedra Só 2016


dedos

algum dia serei mais que poesia
recitada pelos
bares
ruas
praças
serei traça corroendo os mapas
da vida
com seus destinos traçados pelo vento

esse deus estrangulado pelos meus dedos


Cleberton Santos
Do livro "Travessia de abismos" (Editora Via Litterarum, 2015)

sábado, 1 de abril de 2017

A poesia de Helena Parente Cunha


Helena Parente Cunha (Salvador, BA, 1930). Ensaísta, poeta, contista, romancista, professora e tradutora. Em 1949, ingressa no curso de graduação em letras neolatinas da Universidade Federal da Bahia - UFBA, que conclui em 1952. Dois anos depois, ganha bolsa de estudo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - Capes para se especializar em língua, literatura e cultura italiana em Perúgia, Itália, na Università Italiana Per Stranieri. Começa a trabalhar como tradutora em 1956, com o livro A Educação da Criança Difícil, do psicólogo italiano Dino Origlia. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1958, e, dez anos depois, publica seu primeiro livro de poemas, Corpo no Cerco. Segue carreira acadêmica na área de letras: mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, de 1969 a 1972; doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, entre 1974 e 1976; livre-docência, em 1976; e pós-doutorado novamente na UFRJ, de 1992 a 1994. Estuda na Università Degli Studi Di Firenze, na Itália, em 1978. Começa a trabalhar como professora adjunta na UFRJ no ano seguinte e torna-se titular em 1984. Ainda em 1979, publica seu primeiro livro de ensaios, Jeremias, a Palavra Poética: Uma Leitura de Cassiano Ricardo. O primeiro livro de contos, Os Provisórios, é publicado em 1980. Desenvolve desde o fim dos anos 1980 pesquisa sobre a representação feminina na literatura e a produção de escritoras brasileiras do século XIX ao início do XXI.