sábado, 30 de março de 2019

ROBERVAL PEREYR



Trajeto

Vou pelos becos do meu país
e descubro que sou do mesmo sangue
dos inconvidados.

Os governos me marginalizam,
a paisagem suja meu semblante
de fuligem
                        e fraude.

Dou adeus às damas iludidas,
aos vagabundos tristes, à loteria
e desato em duzentas gargalhadas.

Roberval Pereyr
Do livro Amálgama, 2004.
  
Nascido em 1953, na cidade de Antonio Cardoso / BA, Roberval Pereyr é poeta, professor aposentado da Universidade Estadual de Feira de Santana e co-fundador da Revista Hera. Vencedor de vários concursos literários, a exemplo do Prêmio da Academia de Letras da Bahia (2011) e do 2º Prêmio Brasília de Literatura. Tem poemas publicados em antologias nacionais e estrangeiras e mais de 10 livros publicados. Autor também de ensaios literários.


APERITIVO POÉTICO – Rádio Globo 90.5 FM (Feira de Santana), no Papo de Sábado com Pondé, todo sábado, 30/03/2019, 12 hs.





domingo, 24 de março de 2019

JOÃO VANDERLEI DE MORAES FILHO



Concerto marginal para meninices

Um ferreirinha engaiolado
anunciava a presença de meu avô
chegado do sertão.

Pelo corredor comprido,
corria o cheiro pilado de café,
matando minha gula
com toda poesia e tempo
que pendulava
                             coisas ao vento.

Pelo mesmo corredor,
pedras debruçadas me livravam velozes
das certezas da noite...

Subitamente, solfeja o ferreirinha libertário,
e lembrança de outras coisas
se nutrem do menino descalço,
sem Matriz definida.

João Vanderlei de Moraes Filho

Poeta, Professor, Gestor Cultural com experiência no poder público e terceiro setor, educador e poeta. Graduou-se em Letras Vernáculas / Literatura Brasileira pelo Instituto de Letras da UFBA (2003). Mestre e doutorando em Cultura e Sociedade pelo Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade do Instituto de Humanidade Artes e Ciências Milton Santos da UFBA. Pesquisador em formação do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) onde investiga enlaces entre cultura e desenvolvimento no campo das políticas culturais para promoção e acesso ao livro e leitura no espaço cultural latino-americano, em especial Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México. Fundou, em 2005, a Casa de Barro Cultura Arte Educação, em Cachoeira, onde coordena o Caruru dos Sete Poetas: Recital com gostinho de dendê. Publicou:  Pedra Retorcida – Prêmio Braskem de Cultura e Arte / Fundação Casa de Jorge Amado, Salvador, 2004 (www.pedraretorcida.blogspot.com); Portuário – Edição Especial para o X Festival Internacional de Poesia de Cartagena de Índias – Portuário Atelier Editorial, Coleção Oju Aiye v. 01, Edição Bilíngue. Trad. John Galan Casanova, Cartagena, 2006; Em nome dos raios – Expressão Editora, Fortaleza, 2009. (www.emnomedosraios.blogspot.com); Ainda o mar – Portuário Atelier Editorial, Buenos Aires, 2011. (www.aindaomar.blogspot.com).


APERITIVO POÉTICO – Rádio Globo 90.5 FM (Feira de Santana), no Papo de Sábado com Pondé, todo sábado 12 hs.



quinta-feira, 21 de março de 2019

RAFAEL RODRIGUES: o cronista



A literatura e seus efeitos
Um livro pode causar as mais diversas sensações em uma pessoa. Inclusive sensação nenhuma. Mas não vale a pena falar desse caso.
Um livro pode, inclusive, mudar a vida de uma pessoa. Fazer com que ela veja de uma maneira mais clara as coisas ao seu redor. Pode fazer com que uma pessoa aprenda mais sobre si mesma e encontre finalmente o seu caminho. Ou pode, e muitas vezes é bom que isso aconteça, fazer com que alguém perca completamente seu rumo e repense toda a sua vida até ali. Um livro pode fazê-la perceber quão incompleta fora sua trajetória até o instante em que finalizou a leitura daquela obra.
(Não, não estou exagerando. Não são devaneios. Tudo isso é possível e já aconteceu com muita gente. Eu que o diga.)
O escritor argentino César Aira disse, em uma das mesas da Flip de 2007, não exatamente com as palavras a seguir, que não aconselha ninguém a se aproximar da literatura. Muito pelo contrário: ele gostaria que as pessoas se afastassem dos livros, da literatura, porque ela, a literatura, faz com que o homem mergulhe em si mesmo e se torne um ser solitário, recluso, e até mesmo triste, melancólico.
Quando ouvi a declaração de Aira, fiquei incomodado. A literatura, para mim, é justamente o contrário disso. O ato de ler, no caso. Porque quando você lê uma obra, você quer comentar com alguém sobre ela, tendo gostado dela ou não. O fazer literatura, concordo, provoca mesmo tudo aquilo em um escritor ou escritora.
Ouvi a declaração de Aira e pensei em mim. A literatura me fez acordar, me fez descobrir o que realmente quero para a minha vida. A literatura me deu bons amigos, me deu vontades e ambições.
Depois da mesa, que também contou com o brasileiro Silviano Santiago, houve uma sessão de autógrafos. Munido de um exemplar de As noites de Flores, aboletei-me na fila. Quando chegou a minha vez, eu disse para o Aira, gaguejando e tentando ser o mais simpático e bem-humorado possível, que a literatura me fez sair da Bahia e ir a Paraty, e agora estava ali, pedindo um autógrafo a ele.
Aira sorriu, agradeceu, e não lembro se disse que só queria provocar um pouco a plateia. Acho que não, mas é bom lembrar desse jeito.


Rafael Rodrigues é escritor, copidesque e resenhista. Nasceu em 1983, em Feira de Santana, Bahia, onde vive. Tem resenhas, artigos e contos publicados em diversos veículos, como as revistas  Brasileiros e Conhecimento Prático Literatura, o Suplemento Literário de Minas GeraisSuplemento PernambucoRevista da Cultura e o jornal Rascunho. É autor dos livros “O escritor premiado e outros contos” (Multifoco, 2011) e “Mais um para a sua estante” (Casa Impressora de Almería, 2017, crônicas). Participou das antologias “O livro branco – 19 contos inspirados em músicas dos Beatles + bonus track” (Record, 2012) e “Tardes com anões” (Vento Leste, 2011, minicontos). Atualmente, mantém o blog Paliativos, edita a revista eletrônica de contos Outros Ares e eventualmente escreve para o site Huffington Post Brasil.

quinta-feira, 14 de março de 2019

RICARDO NONATO


ORÁCULO (16.07.18)

Entre poetas não há enganos.
Sobre o que escrevem
É consenso o segredo.

Sobre o passado
Dirão apenas
Que o presente é preguiçoso
E incomoda o futuro.

Os poetas sabem dividir medos
E possuem estratégias para acalmar
E a incerteza das descobertas.

Sabem chorar, mas esquecem
Nuvens carregadas de chuva
Bem fundo no coração.

Entre poetas não há enganos
Impossível fingir
Palavras novas.

Ricardo Nonato é professor de Literatura, pesquisador, artista visual e editor do periódico Círculo Poético de Xique-Xique, desde 2011. Em 2016 criou o selo de arte Casa de Vento, através do qual vem editando seus livros e outras aventuras. Publicou artesanalmente pela Casa de Vento “Cântico de Quitéria” (2017), com xilogravuras do autor e “Beleza Oculta” (2018).

quinta-feira, 7 de março de 2019

CECÍLIA MEIRELES


MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles
http://academia.org.br/artigos/inedito-de-cecilia-meireles

terça-feira, 5 de março de 2019

JOVINA SOUZA



MAIS UM CAMPEÃO DE AUDIÊNCIA

“O amor não está” esse é o título do próximo livro da professora, escritora e critica literária Jovina Souza, a publicação poética traz a chancela da Editora Òmnira e que tem assessoria capitaneada pelo jornalista, editor e escritor Roberto Leal, que já apresenta ao público leitor o segundo título do Selo Editorial nesse ano de 2019, com promessa de muita literatura negra elevando essa caminhada de luta e de resistência cultural.
“O amor não está? Como assim? Tudo no mundo capitalista anuncia o amor: o amor erótico, o amor fraterno, o amor maternal, o amor filial, o amor paternal. E, como não podia deixar de ser, o amor maior, que é o amor de Deus. A primeira visão do livro pode ser apocalíptica. Ao leitor que, entretanto, se debruce sobre a lírica denunciante da poeta que tem vida e veias militantes conceberá que a crítica ao ideal do amor, não nascido, mas alimentado pelo capitalismo não elimina os afetos necessários para a vida que se vive aqui entre sangue pedras, lamas e sementes” (da apresentação).
Após o Carnaval você pode já reservar o seu exemplar pelo telefone (71) 98723-3364 direto com a autora Jovina Souza, com quem você leitor pode também interagir segundo as suas obras anteriores “Agdá” e no “Caminho das Estações”.

Fonte: ASCOM/Revista Òmnira
Capa arte: Moustafa Assem

domingo, 3 de março de 2019

ENTRETELAS: um blog sobre a novela brasileira

Sobre a autora


A Professora Doutora Alana de Oliveira Freitas El Fahl (UEFS), que participou do Programa “Papo de Sábado com Pondé” (Rádio Globo 90.5 FM Feira de Santana), coordena um do grupo de pesquisa intitulado “Janela de Tomar” que se dedica aos estudos sobre intertextualidade, e parte dessas leituras aparecem em seu Blog “Entretelas”. “Leitora e telespectadora apaixonada por narrativas”, como afirma em seu blog, “desde criança aprecia a magia dos bons enredos, aprendeu o poder do “pó do pir lim pim pim” no Sítio do Picapau Amarelo e daí em diante jamais abandonou o poder encantatório das boas tramas no papel ou nas telas”. Alana estabelece muitos diálogos entre a Literatura e as novelas da nossa televisão. Leia os artigos da professora Alana Freitas em seu blog


sábado, 2 de março de 2019

LANDE ONAWALE



Genocida

a polícia sabe onde atirar
não é no alvo...
a mira é um ponto preto
colado em sua própria retina

Ditadura branca

no brasil, a ditadura
nunca se extinguiu
para a gente de pele escura:
a antilei
o falso indício
o sumiço
                             a tortura

(poemas publicados em Cadernos Negros, volume 39, São Paulo: Quilombhoje, 2016)


Saiba mais sobre este poeta baiano no site do Projeto OXE: portal da literatura baiana contemporânea (IFBA campus Santo Amaro)



sexta-feira, 1 de março de 2019

CASTRO ALVES E O DIA NACIONAL DA POESIA

Em 14 de março, comemoramos o Dia Nacional da Poesia. Essa data foi escolhida para homenagear o nascimento do poeta baiano Castro Alves, grande expoente do movimento literário conhecido como Romantismo que aconteceu no século XIX. Para saber mais sobre esse adorável poeta brasileiro, acesse o site da Academia Brasileira de Letras. 

Castro Alves (Antônio Frederico), nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da cadeira n. 7, por escolha do fundador Valentim Magalhães. Era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o poeta tinha 12 anos, e, por esta, neto de um dos grandes heróis da Independência da Bahia. Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a capital, estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e precoce para a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os preparatórios e, depois de duas vezes reprovado, matriculou-se finalmente na Faculdade de Direito em 1864. Cursou o 1º ano em 1865, na mesma turma que Tobias Barreto. Logo integrado na vida literária acadêmica e admirado graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos amores que dos estudos. Em 1866, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou apaixonada ligação amorosa com atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que desempenhou importante papel em sua lírica e em sua vida.



Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.