Cleberton Santos (14/05/1979, Propriá/SE) é poeta e professor do IFBA campus Santo Amaro. Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela UEFS. Publicou os livros “Ópera urbana” (2000), “Lucidez silenciosa” ( 2005) “Cantares de roda” (2011), “Aromas de fêmea” (2013), "Estante Viva” (2013 ) e "Travessia de abismos" (2015). Vencedor do Prêmio Escritor Universitário Alceu Amoroso Lima da Academia Brasileira de Letras (2002). Este blog é dedicado à divulgação da Literatura e outras Artes.
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
domingo, 17 de setembro de 2017
EPIFANIA
Epifania
Para Antonio
Brasileiro
Um Buda sentado
sobre meus ombros
medita a leveza da morte.
Vestindo roupas trançadas de pedras
um Buda leve caminha sobre as águas
dos meus pensamentos.
Sobre meus ombros
um Buda escreve
poemas esconsos.
sábado, 16 de setembro de 2017
TRÊS POEMAS DE JECILMA LIMA
Jorge Galeano / http://jorgegaleano.blogspot.com.br
Gostaria de
ser rio
Eis o meu alento e meu segredo
Ser a ponte sobre o rio
Ser a pedra e o chapéu que esbarra nela.
Decifrável alegoria
que traz ao coração dos homens
lembrança de pulmões cheios d’água
e olhares elevados de suicidas.
Estamos todos tão distantes...
A água já nos chega aos joelhos
E nós nem nos abraçamos.
Nos abracemos, amiga
antes que, incapazes do gesto
nos tornemos de um sorriso marmóreo,
repleto desta cegueira incurável.
Gostaria de ser rio
Mas sou irrecuperável.
Entre vista
Quanto às coisas que em mim ardem,
É tudo que me toca mais fundo.
Quanto a tudo no mundo que me encanta
Ou comove,
Ou destrói
É essa dor de mil anos
Este estar só, no centro.
E quanto a estranheza mesmo da morte
É a sua atração que me move.
Enquanto espero
Brinco de compor estrelas
Estou naqueles dias
Em que não consigo ser para mim apenas
E escapo ao controle.
Afogo um mundo em pequenas dores
E me desconheço
Grandiloquente e tola.
Estou naqueles dias
E, enquanto espero
Espalho astros pela janela.
JECILMA LIMA é feirense, poeta, contista
e pesquisadora de literatura e cultura. Participou da coletânea de poesia “SETE
FACES”, publicada pela UEFS, e foi vencedora do I concurso Literário Bahia de todas as Letras, da editora Via
Litterarum, na categoria conto, com “Um coração de coelho”. É professora do
IFBA – Campus Santo Amaro, onde coordena o Núcleo
de Arte e Cultura.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
Memórias da Flipelô 2017
09/08/2017 / FLIPELÔ
Estive na Flipelô 2017. Fui
convidado pelo curador José Inácio Vieira de Melo para recitar meus poemas no
Café Teatro Zélia Gattai ao lado dos poetas Igor Fagundes (RJ) e Walter César
(BA). Tudo seria exatamente igual a tantos outros eventos literários que já fui
se não fosse por este inesquecível episódio. Estive ao lado de Maria Bethânia.
Falei com Maria Bethânia. Abracei Maria Bethânia. Na abertura do evento,
emoldurados pela beleza silenciosa da Igreja de São Francisco, tive a alegria
de ver, ouvir e sentir Maria Bethânia cantando, declamando e orando as belezas
textuais em versos e prosas da riquíssima literatura brasileira. Após seu
recital-oratório-declamativo-show, Maria Bethânia recebeu com imensa ternura
muitos que buscaram seu abraço, sua voz, seu olhar ainda no camarim. Coisa
linda foi quando luz faltou e Maria Bethânia serenamente entoou um canto solene
para aconchegar o ambiente e seus convidados. A candura de sua voz dissipou a
escuridão da noite e iluminou tudo, inté nossa alma. E ficamos inundados, mais
uma vez, pelo seu sopro poético e fomos acolhidos pelo manto de sua calorosa
simpatia. Aquela cena parecia um sonho. Parecia um poema de Castro Alves. Parecia
um romance de Jorge Amado. Aquela voz que ouvi nos tempos de menino lá em
Propriá na casa do amigo Mário Roberto, agora ecoava eternamente perto de mim,
e dentro, e mais além. Atravessando meu ser. Alumiando as casas do meu coração.
Viva em cores e corais. Palavras e notas musicais. Santos e poetas, clássicos e
populares, poemas e canções. Tudo divinal. Magia pura, encanto sublime.
Aguardei e cheguei. Abracei e disse com voz trêmula: “A senhora inspirou minha
vida.” E ela, Maria Bethânia sorriu. Que mágico. Que sonho. Que alegria. Aquela
noite jamais acabará... porque Maria Bethânia é poesia para toda minha vida.
Feira de Santana, 11 de setembro de 2017.
09/08/2017 / FLIPELÔ
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
RUY ESPINHEIRA FILHO
Soneto de Julho
É muito tarde para não te amar.
Tudo o que ouço é o sopro
do teu nome.
O que sinto é teu corpo,
que consome
- presente, ausente - o
meu corpo. Luar
em que me abraso, morro:
teu olhar
ofuscando memórias, onde
some
um mundo, e outro se
ergue. Sede, fome
e esperança. Ah, para não
te amar
é tão tarde que tudo é já
distância,
que só respiro este luar
que me arde,
este sopro sem praias do
teu nome,
esta pedra em que pulsa e
medra a ânsia
e esta aura, enfim, em
que me envolve (é tarde!)
o que és - presente,
ausente - e me consome.
Ruy
Espinheira Filho
Poema
publicado na Revista da Academia de
Letras da Bahia, setembro de 2014, n 46.
domingo, 3 de setembro de 2017
Os sofrimentos do jovem Werther
Um livro formidável. Uma narrativa envolvente em linguagem de cartas. Um romance epistolar. Foi muito prazeroso conhecer os acontecimentos que envolvem a vida do jovem Werther e seu amor pela jovem e bela Lotte. Amor impossível, eterno tema romântico de todos os tempos e lugares. Ouvir as reflexões e diálogos sobre o suicídio entre Werther e Albert. São muitas as possibilidades de sedução que este livro apresenta. Descobrir a literatura de Ossian através das leituras de Werther, sim, pois ele é um grande leitor durante toda a narrativa. Homero, Ossian, Lessing e outras leituras citadas ao longo da narrativa. Um livro poderoso de Goethe. Um clássico não somente da literatura alemã, mas de toda a literatura universal. A solidão, o amor, a morte, a traição, o suicídio, a desilusão amorosa, a amizade e tantos outros valores e sentimentos atemporais perpassam todas as 181 páginas deste formidável e atraente livro que atravessa séculos encantando e atraindo leitores de todas as idades e paixões.
quinta-feira, 13 de julho de 2017
FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DO PELOURINHO
FLIPELÔ – FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DO PELOURINHO -
BAHIA
11/08/2917 (Sexta-feira) Café Teatro Zélia Gattai (Fundação
Casa de Jorge Amado / Pelourinho)
18h - A Voz Edita – Com: Cleberton Santos, Igor Fagundes e
Walter César.
Confira a programação completa: http://www.flipelo.com.br
sábado, 3 de junho de 2017
José de Alencar em Propriá
Em janeiro de 2017, durante uma visita ao Colégio Diocesano de Propriá (Sergipe), onde estudei meu curso de Magistério quando era vocacionado Marista. Visitando a biblioteca da escola com José de Alencar. Foto idealizada e realizada pelo amigo e fotógrafo Sérgio Souza.
segunda-feira, 29 de maio de 2017
O poeta Pinto do Monteiro
Eu comparo esta vida
A curva da letra S:
Tem uma ponta que sobe
Tem outra ponta que desce
E a volta que dá no meio
Nem todo mundo conhece.
sábado, 27 de maio de 2017
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Uma crônica de Ronaldo Correia de Brito
MEMÓRIA DE LIVROS E
BIBLIOTECAS
A lembrança mais
remota que tenho de bibliotecas vem associada a caixotes e malas. Numa caixa de
madeira, mamãe levou para a casa do sertão dos Inhamuns, onde nasci, o pequeno acervo de
professora primária, depois de se casar com um rapaz que fora seu aluno. A
preciosa carga compunha-se de algumas antologias, gramáticas, volumes de
aritmética, geografia e história, e do livro que marcou profundamente minha
vida: A História Sagrada,
uma seleta de textos do Antigo e Novo Testamento.
Os livros eram objetos tão raros nesse mundo sertanejo,
medievalmente fora do tempo, que um parente rico incluiu entre os bens de
partilha do testamento uma minúscula biblioteca de noventa volumes. Hoje, com o
dinheiro apurado na venda de um único boi, das centenas que ele deixava, afora
as terras e outros rebanhos, seria possível comprar dezenas de livros. Naquele
tempo, os objetos de papel impresso davam respeito e distinção, criavam uma
aura de sabedoria e nobreza em torno dos seus afortunados donos.
Não falarei das bibliotecas humanas, embora não deixe de
mencionar os homens e mulheres que guardavam na memória centenas de narrativas
da tradição oral e costumavam contá-las para platéias deslumbradas, geralmente
crianças. Plantados em suas casas, no fundo de uma oficina ou quintal, ou então
viajando pelo mundo, pernoitando em engenhos e fazendas, esses guardiões da
memória se assemelhavam aos personagens que em outras culturas foram
responsáveis pela criação e divulgação de contos, poemas e epopéias mais tarde
fixados em livros como Mahabharata, Ramayana, Epopéia de Gilgamesh, Ilíada, Odisséia e várias narrativas bíblicas.
Falemos das bibliotecas em malas. Também essas exerciam
grande fascínio sobre mim, mas deslumbravam, sobretudo, as pessoas humildes
moradoras do campo. Nos dias de feira, era comum assistir-se o espetáculo de um
vendedor pondo uma lona ou uma esteira de palha no chão, espalhando sobre ela
dezenas de livrinhos impressos nas tipografias, em papel barato de jornal, com
capas ilustradas por xilogravuras. Tratava-se dos
folhetos de cordel ou versos de feira, como também eram chamados.
Para atrair compradores, o
vendedor punha alguma coisa extravagante no meio dos cordéis: um tatu, uma
serpente, a caveira de um jumento… Formado o círculo de curiosos, ele anunciava
os títulos das obras, geralmente com um subtítulo: “Não deixe de comprar O amor de um estudante ou o
poder da inteligência; O mundo pegando fogo por causa
da corrupção; Vida, Tragédia e morte de Juscelino Kubistchek; O sofrimento do povo no golpe da carestia; Os homens voadores da Terra até a Lua; A filha do bandoleiro; Peleja de Serrador e Carneiro”… Depois escolhia o folheto mais instigante e começava a cantá-lo
ou recitá-lo. O ator vendedor sempre possuía boa voz, movia-se com desenvoltura
no pequeno palco, provocava a plateia, criava suspense, fazia rir e chorar e
intuía com precisão o que as pessoas desejavam ouvir.
Durante décadas os folhetos representaram os best-sellers das populações pobres do
nordeste do Brasil. Mesmo quem não sabia ler comprava os livrinhos, pelo gosto
de tê-los guardados, ou na esperança de encontrar alguém que lesse para ele.
Quando um visitante chegava a uma casa modesta do interior, depois do
hospedeiro descobrir que o mesmo era letrado, ia lá dentro num quarto,
arrancava de debaixo da cama uma mala de madeira ou sola abarrotada de livros –
a biblioteca da família analfabeta escondida como um tesouro –, trazia os
folhetos para a sala e suplicava à visita que os lesse.
Tentei compreender as motivações das pessoas que guardam
livros mesmo sendo incapazes de decifrar os sinais impressos nas suas páginas.
O que significam para elas? Essa adoração da gente iletrada me parece de maior
valor que a dos bibliófilos letrados. Há algo de sagrado nesse culto, o mesmo
que se fazia aos Mistérios, àquilo que escapa ao conhecimento e à razão e por
isso se reveste de outros significados.
Ronaldo
Correia de Brito - é escritor e médico, nasceu em
Saboeiro, Ceará, em 2 de julho de 1951. Foi escritor residente da Universidade
de Berkley (Califórnia), participou de diversos eventos internacionais, como a
Feira do Livro de Bogotá, o Festival Internacional de Literatura de Buenos
Aires, o Salon du Livre de Paris e a Feira do Livro de Frankfurt. Sua
carreira artística envolve as mais diferentes linguagens, como literatura,
teatro e música. São de sua autoria O baile do menino deus (teatro), Lua
Cambará (disco), Faca (livro de contos), Galiléia (Prêmio São Paulo de
Literatura), Estive lá fora (romance) e O amor das sombras (contos).
quinta-feira, 18 de maio de 2017
Meu poetinha querido
SONETO DE SEPARAÇÃO
Inglaterra , 1938
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro de 1938
O poetinha Vinicius de Moraes
terça-feira, 16 de maio de 2017
Sarau na Pedra Só - Filme
SARAU NA PEDRA SÓ - Sarau de poesia na fazenda Pedra Só, retiro do poeta José Inácio Vieira de Melo. O evento aconteceu na noite de 17 de dezembro de 2016 e reuniu vários artistas ligados à palavra poética e à música, que recitaram seus versos e cantaram suas canções, em torno de uma aconchegante fogueira.
domingo, 14 de maio de 2017
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Profundanças 2: antologia literária e fotográfica
Organizada
pela poeta e professora Daniela Galdino, "Profundanças 2: antologia
literária e fotográfica" reúne, em sua maioria, autoras inéditas, há
também aquelas que já publicaram livro autoral. Essa antologia integra um amplo
projeto de difusão literária e se soma ao primeiro volume, lançado em 2014. A
intencionalidade do projeto é conferir visibilidade às produções que encenam
formas sensíveis e dissidentes de autorrepresentação. O livro é resultado de
uma ação colaborativa e sem fins lucrativos, portanto, ficará disponível para
download gratuito por tempo indeterminado nesta página.
segunda-feira, 1 de maio de 2017
segunda-feira, 24 de abril de 2017
domingo, 23 de abril de 2017
Poética na incorporação: livro de Igor Fagundes
ODISSEIA
DA LINGUAGEM
Poeta,
ensaísta, crítico literário, ator e professor de Filosofia, Estética e Dança no
Departamento de Arte Corporal da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Igor
Fagundes digere as bases de formação do pensamento ocidental e oferece em seu
oitavo livro (o quarto de ensaio), Poética na incorporação, uma
odisseia da linguagem. Seduzindo-se pelo canto das sereias e das musas,
restitui-se como espaço privilegiado do exercício do humano, da experimentação
e da resistência. Para tanto, evoca as gestualidades vocais de Maria Bethânia e
a poesia escrita de José Inácio Vieira de Melo, deitando-as na encruzilhada de
Exu, orixá mensageiro das travessias, e assim promove a desconstrução de
estereótipos promotores de discriminação e preconceito.
Fruto
de tese de doutorado em Poética pela UFRJ, o livro revela um escritor avesso ao
lugar-comum a que o conceito oswaldiano de antropofagia acabou se reduzindo, e
que faz da escrita, com seu formato ensaístico, um libelo ao pensamento. Em
Igor Fagundes, a escrita pensa: desdobra-se para dentro e para fora de si,
investigando-se. Só por isso já merece leitura e atenção. Mas vai além. Cruza
mitos africanos, bíblicos e gregos para remexer nossa ontologia cultural,
problematizando, por exemplo, recentes ideias de autoficção ou escritas de si.
E também restaura a questão sobre o que é ser brasileiro e sobre o que
significa pensar e escrever num Brasil “expatriado”, “ainda e sempre na
promessa de um descobrimento”. País que “há de ser o mistério de cada voz no
silêncio e pelo silêncio transatlântico de todo lugar”.
Em
suas especificidades e “dentro de um só mocó”, Exu, Cristo e Hermes incorporam
no palco e terreiro deste Ulisses brasileiro e pirata que Igor Fagundes se
torna, colocando “Ítaca bem no meio da gira” e atravessando o mar da sofia. Mar
que também é sertão (pois, mencionando Guimarães Rosa, “o sertão está em toda
parte, é dentro da gente”). Fagundes leva o sertão para dentro do texto,
“sempre na volta adiável”, com eternos retornos, torneios da linguagem. Daí que
testa o uso das palavras, rascunha e dobra os sentidos ao escrever, deixando
sempre o rastro da escrita, da incerteza.
Se a
poesia de José Inácio tem como referência os cordelistas e o aboio; se a voz de
(sua musa) Maria Bethânia — “cantora encruzilhada” — guarda o canto das
sereias, Igor Fagundes imprime em seu texto a marca do popular, do artesanal,
do mítico. E o faz sintonizado, ainda que não cite, com um dos mais enigmáticos
aforismos de Oswald de Andrade: “Só podemos atender ao mundo orecular”.
Amalgamando “auricular” (de ouvido) e “oracular” (de oráculo), investe no
sentido da audição, na escuta como acesso ao conhecimento, descarregando o divino
na histórica objetivação capitalista.
A
demanda pela voz atravessa todo o livro e é sua potência. Para além do registro
escritural, a voz poética desconstrói verdades e quebra hábitos de leitura. O
projeto ocidental de emudecimento do poético e, por sua vez, de ensurdecimento
do ouvinte-leitor é radicalmente atacado. Entre silêncios e vazios, o leitor é
chamado a tomar posição e a pensar com o corpo todo sobre o já dado, o já
estabelecido na cultura dos conceitos, no fetiche da ciência que despreza as religiões:
“no arcaico, sábio é o poeta, o bardo, o cantor, o incorporado”. Tomado “pelo
princípio enquanto princípio, pelo milagre do agora abissal”, Igor Fagundes
emula Maria Bethânia e José Inácio direcionando o leitor para um grau zero da
escrita, para uma fronteira onde o escrito por si só não basta. Considerando
que a musa é a fonte de uma mensagem enviada apenas ao poeta e a sereia, a
portadora do canto audível aos ouvidos humanos, em Poética na
incorporação a linguagem é musa e a escrita é sereia que seduz e
engendra o desconforto do leitor.
Labiríntico
e distante das simplificações dos manuais que criam dicotomias preguiçosas para
apressados, o livro orienta antigo e moderno, tradição e traição, a fim de
sustentar a hesitação geradora do pensar. Na invenção do humano, cantando o
ciclo da origem, do ser se dando na linguagem, as disputas pelas heranças
patriarcais são substituídas pela generosidade erótica dos contatos. Em estado
de poesia, vendo o mundo “pelos olhos da esfinge”, sendo o enigma, não o decifrador,
Igor Fagundes reafirma a literatura como saber: da linguagem e de um ser humano
retirante, itinerante, nômade.
Resenha publicada no Jornal Rascunho
Para adquirir mais livros de Igor Fagundes:
quinta-feira, 20 de abril de 2017
Damário Dacruz: oficina do Projeto OXE
Certo voo
Cada
pássaro
sabe
a rota
do retorno.
Cada
pássaro
sabe
a rota
de si.
Cada
pássaro,
na rota,
sabe-se
pássaro.
Damário Dacruz
quarta-feira, 12 de abril de 2017
Manuel Bandeira: imagem, poesia e vida.
Um poeta que leio sempre. Poemas para todos os dias. Meu querido poeta pernambucano Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira.
quinta-feira, 6 de abril de 2017
"O Alienista" de Machado de Assis
Para meus queridos alunos do IFBA campus Santo Amaro. Para todos os amantes da nossa boa Literatura Brasileira. O Mestre Machado de Assis.
terça-feira, 4 de abril de 2017
Poema de Narlan Matos
CALENDÁRIO
é
preciso esquecer de março
para que abril finalmente aconteça
deitar-se sob a sombra de janeiro
para que o abismo de junho desapareça
para que abril finalmente aconteça
deitar-se sob a sombra de janeiro
para que o abismo de junho desapareça
de
quem é esta face por detrás da hera?
ao longe o luar etéreo repousa leve e branco
ao longe o luar etéreo repousa leve e branco
sobre lírios de absinto e quimera
resta
ainda a relva de setembro
e azaleias da tarde
e azaleias da tarde
e as latitudes do silêncio
não
é a morte que eu busco, amiga
quando chegam tuas palavras na brisa
quando chegam tuas palavras na brisa
quando oferece-me o frescor de tua tez
e a Via-Láctea de repente renasce
calma nas rosas silvestres do prado
ou quando abres as imensas pétalas
do teu sorriso lindo e branco (um lírio?)
para a noite da minha existência
e a Via-Láctea de repente renasce
calma nas rosas silvestres do prado
ou quando abres as imensas pétalas
do teu sorriso lindo e branco (um lírio?)
para a noite da minha existência
CALENDARIO
bisogna
dimenticare marzo
perché finalmente arrivi aprile
sdraiarsi all’ombra di gennaio
perché l’abisso di giugno scompaia
perché finalmente arrivi aprile
sdraiarsi all’ombra di gennaio
perché l’abisso di giugno scompaia
di
chi è questa faccia dietro l’edera?
lontano il chiar di luna riposa lieve e bianco
sopra gigli di assenzio e chimera
lontano il chiar di luna riposa lieve e bianco
sopra gigli di assenzio e chimera
resta
ancora l’erba di settembre
e azalee del pomeriggio
e le latitudini del silenzio
e azalee del pomeriggio
e le latitudini del silenzio
non
è la morte che cerco, amica
quando giungono le tue parole nella brezza
quando mi offri la frescura della tua pelle
e la Via Lattea all’improvviso rinasce
calma nelle rose silvestri del prato
o quando apri i petali immensi
del tuo sorriso bello e bianco (un giglio?)
per la notte della mia esistenza
quando giungono le tue parole nella brezza
quando mi offri la frescura della tua pelle
e la Via Lattea all’improvviso rinasce
calma nelle rose silvestri del prato
o quando apri i petali immensi
del tuo sorriso bello e bianco (un giglio?)
per la notte della mia esistenza
Narlan Matos - poeta brasileiro com vários livros publicados. Vive nos Estados Unidos e sua poesia já foi traduzida para vários idiomas.
Tradutor: Giorgio Mobili
segunda-feira, 3 de abril de 2017
Poema de Roberval Pereyr
Amálgama
O exercício da mentira
assevera-nos o rosto;
petrifica-nos o busto
e engrandece-nos a ira.
O exercício da mentira
engrandece-nos as posses;
ajoelha-nos em preces
sob o teto das igrejas.
O exercício da mentira
faz-nos fortes barulhentos;
tece grandes pensamentos
para encher-nos de amarguras.
O exercício da mentira
faz-nos lúcidos, divinos;
torna os animais humanos
e torna os deuses caninos.
O exercício da mentira
(por que tamanha maldade?)
concedeu-nos - que loucura! -
o exercício da verdade.
O exercício da mentira
assevera-nos o rosto;
petrifica-nos o busto
e engrandece-nos a ira.
O exercício da mentira
engrandece-nos as posses;
ajoelha-nos em preces
sob o teto das igrejas.
O exercício da mentira
faz-nos fortes barulhentos;
tece grandes pensamentos
para encher-nos de amarguras.
O exercício da mentira
faz-nos lúcidos, divinos;
torna os animais humanos
e torna os deuses caninos.
O exercício da mentira
(por que tamanha maldade?)
concedeu-nos - que loucura! -
o exercício da verdade.
Roberval Pereyr
Nasceu em Antônio Cardoso (Bahia, 1953). Vive em Feira de Santana. É
poeta, ensaísta e professor na UEFS. Publicou os livros de poesia: Iniciação ao estudo do um (com Antônio
Brasileiro, em 1973); Cantos de sagitário,
(1976); As roupas do nu (Coleção dos
Novos, em 1981); Ocidentais (1987) e O súbito cenário (1996). Publicou nas
revistas: Tapume, Hera e Serial. Vencedor do Prêmio da Academia de Letras da Bahia 2010.
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