domingo, 4 de maio de 2008

SOSÍGENES COSTA (1901-1968)

Eis, amigos leitores, um dos mais belos sonetos que já li em toda minha curta vida. Um abraço a todos.

Soneto ao anjo

Por tua causa o meu jardim fechou-se
às mulheres que vinham buscar lírios,
quando o poente cor-de-rosa e doce
punha pavões nos capitéis assírios.

Teu beijo como um pássaro me trouxe
o mais azul de todos os delírios.
Por tua causa o meu jardim fechou-se
às mulheres que vinham buscar lírios.

Só tu agora colhes azaléia
e os cintilantes cachos da azuréia,
mágica flor que em meu jardim nasceu.

Só tu verás os lírios cor da aurora.
Meu pavão dormirá contigo agora
e o meu jardim dourado agora é teu.

(1930)

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Cleberton
Sou flautista, do Rio de janeiro (59 anos), estava a ouvir a rádio MEC, quando de raspão o locutor falou algo como "Sucígines" Costa, pensei que fosse compositor, mas depois de fuçar a web encontrei Sosígenes Costa, ilustre poeta conterrâneo de meu avô (Ilhéus). Seu comentário sobre "um dos mais belos sonetos que já li em toda minha curta vida". Curta, mas curta bastante, que é só esta!
Bom, devia ser uma obra sinfônica sobre ou inspirada em poesia do Sosígenes (eu tenho um amigo que é Thucydides...) Pelo soneto elogiado, sinto que este mundo é mesmo pródigo em artistas - devem ser a metade da população, só que a outra metade está exercendo outras funções... Parabéns pela dica, tenha um amigo músico aqui no Rio.
Franklin da Flauta

Anônimo disse...

Bem que eu pensei: esse cara é meio modernista, embora o soneto que você citou tenha apenas uns laivos de modernismo, o quente é o "Duas festas no mar", esse sim, uma viagem quase lisérgica, junto com o "Pavão vermelho"!
Abraços
Franklin