terça-feira, 26 de outubro de 2010

RESENHAS & RESUMOS

ADORNO, Theodor W. “Discurso sobre lírica e sociedade”. Trad. Maria Cecília Londres e Heidrun Krieger Olinto. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da literatura em suas fontes. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975, p. 343-354.


A relação com o social não nos deve afastar de obra de arte, mas, ao contrário, inserir-nos mais profundamente nela. Pois bem: a mais simples reflexão basta para mostrar que este aprofundamento deve ser esperado. Pois o conteúdo de um poema não é apenas a expressão de emoções e experiências individuais. Mas estas não chegam nunca a ser artísticas a menos que consigam participação do geral por meio, precisamente, da especificação da essência de sua forma estética. (p. 343)

Mas a generalidade do conteúdo lírico é essencialmente social. Só entende o que diz o poema aquele que percebe na solidão do mesmo a voz da humanidade; e ainda: inclusive a própria solidão da palavra lírica está prefigurada pela sociedade individualista e atomística, do mesmo modo que, ao contrário, sua força compulsória geral vive da densidade de sua individuação. (p. 344)

No protesto contra ela, o poema exprime o sonho de um mundo no qual as coisas fossem de outro modo. A idiossincrasia do espírito lírico contra a prepotência das coisas é uma forma de reação à coisificação do mundo, ao domínio das mercadorias sobre os homens, domínio que se estende desde o começo da idade moderna, e que desde a revolução industrial, tornou-se a força dominante da vida. (p. 345)

As formações líricas mais elevadas são, por isso, aquelas em que o sujeito, sem resquício sequer de matéria pura, soa na linguagem até que a própria linguagem se torna perceptível. O autoesquecimento do sujeito que se entrega à língua como a algo objetivo e a imediatez e involuntariedade de sua expressão são o mesmo; assim a linguagem mediatiza intimamente a lírica e a sociedade. Por esta razão, a lírica se mostra profundamente social não quando imita a sociedade, não quando não comunica algo, mas sim quando o sujeito que consegue a expressão adequada entra em harmonia com a própria linguagem, ali onde a linguagem aspira por si e de si. (p. 347)

BENJAMIN, Walter. “Paris, capital do século XIX.” Trad. Maria Cecília Londres. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da literatura em suas fontes. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975, p. 306-316.

O interior é o lugar de refúgio da arte. O colecionador é o verdadeiro ocupante do interior. Ele transfigura os objetos para torná-los coisa sua. Seu papel é o de Sísifo: ao possuir as coisas deve despojá-las de seu caráter de mercadorias. Mas, em lugar de valor de uso, só lhes confere o valor de amor. O colecionador se imagina não só num mundo longínquo ou passado, mas, ao mesmo tempo, num mundo melhor, onde, sem dúvida, assim como no mundo de todos os dias, os homens não estão desprovidos do que utilizam, mas onde as coisas estão dispensadas da sobrecarga de serem úteis. (p. 311)

Cheio de melancolia, o gênio de Baudelaire é um gênio alegórico. Com Baudelaire, pela primeira vez, Paris torna-se objeto de poesia lírica. Esta poesia não é uma arte regional, mas antes o olhar do alegorista que toca a cidade, o olhar do estranho. (p.312)

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