sexta-feira, 30 de novembro de 2007

CALANGOS


BESTIÁRIO INÚTIL

Primeira paisagem

Um calango espreita a vida
no mormaço de uma tarde estreita.

Sol a castigar o dorso de uma catenga
viúva silenciosa de outro calango morto.

Esticado em terra seca e astrosa
poeta repousa ossos e remorsos.

Segunda paisagem

De cima de um muro
um calango vigia o mundo.

Imperioso e astuto e lépido
contempla a paisagem (surda)
ausculta os pensamentos de um cético.

De cima de um muro
um calango vigia o cego.

Viril e verossímil e audaz
afronta a morte que ronda
seu dorso listrado de couro tenaz.

Concerto para ninar calangos

Silêncio tecido de dor e violinos
crava em meu peito
concerto estapafúrdio
para ninar calangos opalinos.

In: Lucidez Silenciosa (Salvador: EPP Publicações e Publicidade, 2005).

Nenhum comentário: