segunda-feira, 3 de abril de 2017

Poema de Roberval Pereyr



Amálgama

O exercício da mentira
assevera-nos o rosto;
petrifica-nos o busto
e engrandece-nos a ira. 

O exercício da mentira
engrandece-nos as posses;
ajoelha-nos em preces
sob o teto das igrejas. 

O exercício da mentira
faz-nos fortes barulhentos;
tece grandes pensamentos
para encher-nos de amarguras. 

O exercício da mentira
faz-nos lúcidos, divinos;
torna os animais humanos
e torna os deuses caninos. 

O exercício da mentira
(por que tamanha maldade?)
concedeu-nos - que loucura! -
o exercício da verdade. 

Roberval Pereyr

Nasceu em Antônio Cardoso (Bahia, 1953). Vive em Feira de Santana. É poeta, ensaísta e professor na UEFS. Publicou os livros de poesia: Iniciação ao estudo do um (com Antônio Brasileiro, em 1973); Cantos de sagitário, (1976); As roupas do nu (Coleção dos Novos, em 1981); Ocidentais (1987) e O súbito cenário (1996). Publicou nas revistas: Tapume, Hera e Serial. Vencedor do Prêmio da Academia de Letras da Bahia 2010.


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