sábado, 16 de setembro de 2017

TRÊS POEMAS DE JECILMA LIMA

Jorge Galeano / http://jorgegaleano.blogspot.com.br


Gostaria de ser rio

Eis o meu alento e meu segredo
Ser a ponte sobre o rio
Ser a pedra e o chapéu que esbarra nela.
Decifrável alegoria
que traz ao coração dos homens
lembrança de pulmões cheios d’água
e olhares elevados de suicidas.

Estamos todos tão distantes...

A água já nos chega aos joelhos
E nós nem nos abraçamos.
Nos abracemos, amiga
antes que, incapazes do gesto
nos tornemos de um sorriso marmóreo,
repleto desta cegueira incurável.

Gostaria de ser rio
Mas sou irrecuperável.


Entre vista


Quanto às coisas que em mim ardem,
É tudo que me toca mais fundo.

Quanto a tudo no mundo que me encanta
Ou comove,
              Ou destrói
É essa dor de mil anos
Este estar só, no centro.

E quanto a estranheza mesmo da morte
É a sua atração que me move.


Enquanto espero

Brinco de compor estrelas
Estou naqueles dias
Em que não consigo ser para mim apenas
E escapo ao controle.

Afogo um mundo em pequenas dores
E me desconheço
Grandiloquente e tola.

Estou naqueles dias
E, enquanto espero
Espalho astros pela janela.


JECILMA LIMA é feirense, poeta, contista e pesquisadora de literatura e cultura. Participou da coletânea de poesia “SETE FACES”, publicada pela UEFS, e foi vencedora do I concurso Literário Bahia de todas as Letras, da editora Via Litterarum, na categoria conto, com “Um coração de coelho”. É professora do IFBA – Campus Santo Amaro, onde coordena o Núcleo de Arte e Cultura.

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