Acaba de ser publicado o mais novo livro da escritora baiana Kátia Borges. O lançamento virtual aconteceu no dia 17/12/2020 pelo canal https://www.youtube.com/watch?v=wCTpNUk59TQ
O livro pode ser adquirido pelo site da Editora Patuá
https://www.editorapatua.com.br/produto/236970/a-teoria-da-felicidade-de-katia-borges
A teoria da felicidade
Em 2017, os conselhos que Albert Einstein
escreveu de próprio punho para oferecer como gorjeta a um camareiro do Hotel
Imperial de Tóquio foram vendidos por mais de 1,5 milhão de dólares, durante um
leilão em Jerusalém. “Uma vida calma e modesta traz mais felicidade que a busca
de sucesso e a inquietação constante”, dizia um dos bilhetes escritos em
alemão. “Querer é poder”, ensinava a segunda mensagem.
Sou
afeita a aconselhar os outros, confesso; é quase um esporte. Basta um amigo
abrir a boca e fazer uma queixa, que elaboro em segundos o plano perfeito.
Soluções para espinhela caída, nome no Serasa e amores que não deram certo?
Temos. Nem sempre funcionam a contento, isso é verdade. Conselho não se pede e
é preciso treino para acertar o alvo. Também não se vende. Mas vejam o caso de
Albert Einstein.
Os papéis
timbrados do Hotel Imperial de Tóquio com a Teoria da Felicidade atravessaram
quase um século e renderam uma fortuna aos netos daquele homem. Aconselhar os
outros pede coragem e, nesse sentido, Einstein foi admirável ao apostar na
síntese. Não que eu concorde. Afinal, é possível uma vida feliz sem desejos? E,
tendo desejos, como manter a quietude? Talvez o problema esteja nos conceitos.
Se
olharmos direito, há uma contradição nos bilhetes que guardam os conselhos de
Einstein. Um deles estimula a acomodação, o outro exorta ao movimento. É como
se ele tivesse dito ao camareiro lá em Tóquio: “Se desejar algo, lute. Se
pode passar sem, mantenha-se quieto”. No fundo, bem lá no fundo, tudo é
relatividade. Nesse ponto, meu pensamento inquieto conecta-se com Rainer Maria
Rilke.
Em Cartas a um Jovem Poeta, ele orienta Franz
Xaver Kappus, que vacila entre a carreira militar e a poesia, por não saber se
os seus versos são realmente bons. É quase um teste, e tão valioso quanto a
Teoria da Felicidade: “confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado
escrever?”. Rilke se exime, desse modo generoso, a um só tempo, do peso da
crítica e do conselho. Examine a si mesmo, eis a senha. O resto é silêncio.
Se os
livros didáticos contam a história dos vencedores, desencontros costumam render
bons romances. O que dizer dos encontros? Por mais descartáveis, rápidos ou
dolorosos, deixam sempre algum legado. Mesmo quando aconselho, por vício quase,
à moça desconhecida ao meu lado no banco, desesperada com um pagamento
atrasado, que é sempre possível habilitar o aplicativo.
Conta-se
que o físico mais famoso do mundo comemorava solitariamente a notícia de que
ganhara o Nobel de Física, naquele dia distante de 1922, quando o camareiro
bateu em sua porta para cumprir uma missão rotineira a pedido do hóspede. Sem
moedas nos bolsos, improvisou os tais bilhetes como se fosse capaz de prever
que algum dia seriam valiosos, talvez como parte dos festejos pelo
reconhecimento de sua genialidade.
Ali
nasceram instantaneamente os herdeiros milionários de Einstein, como que por
milagre. De minha parte, conselheira compulsiva que sou, trago comigo uma
orientação que me enriquece em mais de 1,5 milhão de dólares. Vem da infância,
emerge viva na memória e é como um mantra ou uma prece. “Cabeça erguida,
sempre”, dizia minha mãe, diante de qualquer derrota. Passo adiante agora. Eis,
para vocês, à guisa de moedas. Essa é a minha teoria pessoal da felicidade.
https://www.editorapatua.com.br/produto/236970/a-teoria-da-felicidade-de-katia-borges
Kátia Borges é baiana,
poeta, cronista, jornalista e professora. Autora dos livros De volta à caixa de abelhas (As letras da
Bahia, 2002), Uma balada para Janis (P55,
2009), Ticket Zen (Escrituras,
2010), Escorpião Amarelo (P55,
2012), São Selvagem (P55,
2014) e O exercício da distração (Penalux,
2017). Tem poemas incluídos nas coletâneas Roteiro
da Poesia Brasileira, anos 2000 (Global, 2009), Traversée d’Océans – Voix poétiques de
Bretagne et de Bahia (Éditions Lanore, 2012), Autores Baianos, um Panorama (P55,
2013) e na Mini-Anthology of
Brazilian Poetry (Placitas: Malpais Rewiew, 2013). Escreve crônicas
semanais desde agosto de 2018.
Poemas
da autora em http://oxe.insix.com.br/katia-borges/
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