domingo, 6 de dezembro de 2020

OLAVO BILAC

 

RIO ABAIXO

 

Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga...

Quase noite. Ao sabor do curso lento

Da água, que as margens em redor alaga,

Seguimos. Curva os bambuais o vento.

 

Vivo, há pouco, de púrpura, sangrento,

Desmaia agora o Ocaso. A noite apaga

A derradeira luz do firmamento...

Rola o rio, a tremer, de vaga em vaga.

 

Um silêncio tristíssimo por tudo

Se espalha. Mas a lua lentamente

Surge na fímbria do horizonte mudo:

 

E o seu reflexo pálido, embebido

Como um gládio de prata na corrente,

Rasga o seio do rio adormecido.

 

 BILAC, Olavo. Obra reunida. Org. e introd. Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p.138. 

https://www.escritas.org/pt/t/11443/rio-abaixo


 

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